Senadores da oposição aproveitaram a sessão esvaziada de debates no plenário do Senado nesta segunda-feira (23) para tecer críticas à condução do segundo governo da presidente Dilma Rousseff. Apesar dos ataques, os congressistas descartaram a viabilidade de um processo de impeachment da presidente, o que é defendido por alguns grupos da sociedade civil.
Os tucanos aproveitaram também para rebater a fala da presidente que afirmou na semana passada que os desvios na Petrobras deveriam ter sido investigados desde o governo do ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso, na década de 90.
"Ela perdeu a chance de mostrar que é presidente da República. Ela fez um ataque infantil e inconsistente à oposição, em profundo desrespeito com o povo brasileiro. Não é assim que ela deve enfrentar a crise", afirmou o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), que foi candidato à Presidência da República na chapa do tucano Aécio Neves.
Já o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB) afirmou aos colegas que se Dilma continuar adotando a tática de culpar os governos tucanos pelos esquemas de corrupção na Petrobras, ela "deveria culpar Getúlio Vargas, que foi quem criou a Petrobras".
Após ter ficado dois meses em silêncio, Dilma concedeu entrevista na sexta-feira (20) para acusar o PSDB de não ter investigado desvios na empresa durante a gestão de FHC. Sem citar nomes, a presidente fez referência ao depoimento do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco. Ele disse ter começado a receber propina da SBM Offshore em 1997.
"Se em 1996 ou 1997 tivessem investigado e tivessem, naquele momento, punido, nós não teríamos o caso desse funcionário da Petrobras que ficou durante quase 20 anos [atuando em esquema] de corrupção", disse a presidente.
Para Aloysio Nunes Ferreira, a estratégia de Dilma é uma tentativa de "acuar a oposição". "Lamento que a presidente não tenha outra coisa a fazer do que acuar a oposição. Como se ela pudesse nos meter medo. É isso é que inacreditável", disse aos poucos colegas que estavam em plenário.
Apesar das críticas, Ferreira disse que não acredita em um processo de impeachment da presidente. "Não vejo neste momento condições políticas para que a oposição se lance em uma campanha pelo impeachment. Isso não é nem desejável", afirmou aos colegas.
Para o senador, quando a população defende o impeachment significa que "não aguentamos mais viver em um governo que não governa". "Eu sinto que ela não sabe o que fazer. [...] É um governo completamente desvinculado da realidade, um governo que não sabe o que quer", disse Ferreira.
Ainda assim, Ferreira afirmou que irá participar das marchas convocadas para o dia 15 de março em todo o País para defender o processo de impedimento da presidente Dilma.
O senador José Medeiros (PPS-MT), suplente que assumiu o mandato no lugar de Pedro Taques (PDT), eleito governador do Mato Grosso, também se posicionou contra a ideia de um impeachment. "Não vejo as digitais da Dilma", disse.
Transparência
Durante a sessão, Cássio Cunha Lima protocolou um pedido de informação na Mesa Diretora do Senado para que seja pedido ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, dados de reuniões que tenha realizado com advogados nos últimos três anos.
O pedido é fruto da revelação de que o ministro se reuniu, pelo menos por três vezes neste mês, com advogados que defendem empresas acusadas por investigadores da Operação Lava-Jato de pagar propina para conquistar obras da Petrobras, como a UTC e a Camargo Corrêa.
Inicialmente, Cardozo negou os encontros mas, diante da divulgação das reuniões, ele admitiu ter se encontrado com Sérgio Renault, que defende a UTC na esfera civil. O ministro, no entanto, negou ter tratado da Operação Lava Jato com o advogado. Disse que eles estiveram na antessala de seu gabinete e a conversa durou dois minutos.
Em nota, Cardozo também disse que é sua obrigação legal receber advogados. Para Cássio Cunha Lima, o ministro pode, de fato, receber advogados, no entanto, o problema é não publicizar os encontros.
Por isso, o senador questiona o ministro sobre quais advogados de investigados pela Polícia Federal e cujo caso já esteja em sede judicial ele recebeu nos últimos três anos e quais assuntos foram tratados. O senador questiona ainda em quais datas e horários que essas audiências ocorreram e se as pessoas atendidas levaram acompanhantes.
Para ser enviado ao ministro da Justiça, o pedido de informação precisa ser aprovado pela Mesa Diretora, que se reúne, geralmente, uma vez por mês.